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A cada 24h, 5 stalkers atacam no DF. Veja relatos chocantes de vítimas

Um relatório de análise criminal mapeou a ação dos perseguidores que agem em Brasília, identificando dia e cidades das ocorrências


Foto: Charles Deluvio/Unsplash

Pânico constante, noites em claro e um desgaste emocional intenso costumam dominar o comportamento das vítimas de stalking. A cada 24 horas, cinco pessoas são perseguidas no Distrito Federal. Desde que a Lei nº 14.132, de 31 de março 2021, entrou em vigor, até dezembro do mesmo ano, 1.540 homens e mulheres sofreram ameaças de autores obsessivos.


A coluna teve acesso a um levantamento elaborado pela Divisão de Análise Técnica e Estatística (Date) da Polícia Civil (PCDF). Pela primeira vez, um relatório de análise criminal mapeou a ação dos stalkers, identificando dia, semana, horário e local de maior incidência dos casos. Além disso, o documento define o perfil de vítimas e autores que figuram nas ocorrências.

Nesta semana, policiais civis da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) prenderam, em flagrante, um especialista em tecnologia da informação que perseguia uma recepcionista de 23 anos. Outro caso de stalking, que ganhou notoriedade na capital do país, envolveu a agente da Polícia Civil Rafaela Luciane Motta Ferreira, 40 anos, acusada de esfaquear o ex- namorado.


Dia da semana
O levantamento identificou que sábado é o dia da semana preferido dos perseguidores para atacar: 15% das ocorrências. A faixa de horário entre 6h e 11h59 teve a maior quantidade de registros: 33,6%. Sobre a cidade onde mais situações de stalking foram computadas, Ceilândia lidera, com 12,3%.

Em segundo lugar no ranking está Taguatinga (8,2%); seguida de Plano Piloto (7,7%), Samambaia (7,1%), Gama (6,8%) e Planaltina (6%). Juntas, essas regiões concentram 48,2% dos casos. Segundo a diretora da Date, delegada Mariana Almeida, a análise criminal é importante para aprimorar o conhecimento a respeito do stalking. “Foi possível traçar uma dinâmica sobre os autores que praticam esse crime. Essas informações podem ser valiosas durante a investigação”, explicou.

O estudo também indicou as razões que levam ao cometimento do delito. Nas ocorrências preenchidas, a motivação passional ou de relações interpessoais se destacou (565), seguida pela condição de a vítima ser do sexo feminino (20). A residência foi o principal lugar onde os crimes aconteceram, totalizando 31,1% dos casos dessa natureza, seguida da via pública, com 11,7%.


Sexo e faixa etária
Em relação às vítimas, o levantamento salienta que 80,8% são mulheres e 18,8%, homens. A faixa etária predominante vai de 25 a 30 anos, com 19,9% dos casos. Entre os autores, houve predominância do sexo masculino, com 68,6% deles identificados. O intervalo de idade mais recorrente ficou de 25 a 30 anos, com 15,1% do total.

No que diz respeito ao vínculo com quem é alvo, há destaque para ex-maridos: 30,3%. Ex-namorados representam 13,7%. Segundo a delegada-chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Ana Carolina Litran, quem sofre stalking deve se resguardar tentando materializar o crime. “Podemos dizer que um aspecto importante para a vítima é ela ter provas dessas situações. É fundamental ter mensagens e ligações do autor armazenadas e, caso ele tenha ido ao trabalho ou à residência dela, procurar câmeras que tenham registrado imagens”, disse.


Relatos assombrosos
A coluna conversou com a vítima de um homem de 37 anos detido no início desta semana. Formado em tecnologia da informação (TI), ele acabou preso acusado de amedrontar uma jovem de 24 anos entre 2016 e 2022.

“No meu caso, imediatamente quando a delegacia tomou conhecimento, ela atuou e o inquérito foi conduzido com muita competência, chegando ao ponto de ele ser preso, pois vinha, reiteradamente, me perseguindo e falando que não iria desistir e, se precisasse, me sequestraria”, contou.

A jovem desabafou sobre os momentos de pânico vivenciados. “Estou vivendo um pesadelo, tenho muito medo e acho a lei falha, com pena muito branda. Temo que amanhã ele esteja na rua e volte a me perseguir ainda mais”, disse.

Outro episódio ocorreu com uma médica de 27 anos, que atende em um consultório na Asa Norte. Um homem de 30 anos se encantou pela profissional de saúde, que costumava ser ativa nas redes sociais. Ele tentou marcar uma consulta ao entrar em contato com ela, mas não havia horário vago para os próximos dias.

Com a negativa, o homem passou a persegui-la nas redes sociais e teve o perfil e seus comentários bloqueados pela médica. Irritado, o stalker descobriu o endereço do consultório e foi até o local tentar forçar um atendimento. Assustada, a mulher procurou a Deam. O homem foi intimado a prestar esclarecimentos.

Policial stalker
A agente Rafaela Luciane Motta Ferreira, 40 anos, foi presa na noite de 1º de dezembro de 2021, após a Justiça deferir o pedido de prisão preventiva feito pela Corregedoria da corporação. A mulher já havia sido detida, em 28 de novembro, por agredir o ex-namorado.

O caso pelo qual ela foi presa pela primeira vez aconteceu em 2018. Conforme conta a vítima nos autos do processo que corre no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), eles se conheceram em um aplicativo de relacionamentos e, depois que o homem tentou terminar o namoro, a policial passou a se comportar de maneira agressiva.

Em uma das oportunidades, a mulher teria mantido o homem por cerca de 8 horas em cárcere privado, sem autorizá-lo a usar telefone celular, além de fazer diversas ameaças. A fim de conseguir falar com o ex, a agente teria se utilizado da posição de policial para convencer o porteiro a deixá-la ir até a porta do apartamento.

A situação só teria sido contornada, de acordo com o processo, depois que ele concordou em sair com a agente para almoçar no dia seguinte. Na mesma semana, após nova tentativa de término, a mulher passou a ligar para o ex-companheiro de maneira insistente. Foram pelo menos 30 chamadas do número de celular da policial e mais de 60 feitas de números privados.

A servidora da PCDF ainda ligou para o local de trabalho do ex e, por duas vezes, conseguiu falar com o chefe dele ao dizer que era agente de polícia. Na primeira vez, o superior da vítima chegou a dar informações, mas após ser alertado sobre do que se tratava, passou a ignorar os contatos.

Áudios de conversas foram juntados ao processo. Em um deles é possível notar que a acusada tinha ciência do registro de ocorrência policial e faz ameaças: “As coisas vão ficar muito ruins para você se você não retirar essa merda”. Em outra oportunidade, ela diz que “irá pagar na mesma moeda”.

Fonte: Metrópoles

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