Mulher foi levada para a casa de uma família, com a promessa de uma vida melhor, aos 12 anos de idade. Ela trabalhava como doméstica, dormia em um sofá e raramente tinha contato com os parentes.
Foto: Reprodução/TV Globo |
O caso mais antigo de exploração no Brasil começou como um trabalho infantil. A idosa que passou 72 anos em situação análoga à escravidão foi levada para a casa da família onde morava no Rio de Janeiro aos 12 anos de idade. A menina pobre veio do interior do Rio com a promessa de uma vida melhor, mas não foi o que aconteceu.
“As informações colhidas nos permitiram concluir, em síntese, que os pais da trabalhadora laboravam em uma fazenda da mesma família, que levou a criança, em caso de trabalho infantil, para a capital, prometendo oferecer estudo, mas na realidade com o objetivo de fazer os serviços da casa”, explicou o Auditor-Fiscal do Trabalho Alexandre Lyra, que participou da operação.
A vítima tem hoje 84 anos anos e foi resgatada há dois meses, após uma denúncia anônima.
Segundo o órgão, a idosa passou a vida inteira trabalhando para a mesma família sem receber salários nem benefícios. O órgão alerta que casos como o dela, 134 anos após a Abolição da Escravatura, não são raros.
“Ela não tem a noção que ela foi escravizada. Ela não tem. Ela não tem noção alguma disso”, afirmou Cristiane Lessa, assistente social e diretora do centro de recepção de idosos onde a mulher está abrigada.
A idosa, que não teve a identidade revelada para preservá-la, está aos cuidados da Prefeitura do Rio desde 15 de março, quando foi resgatada por auditores fiscais do trabalho.
A inspeção foi autorizada pela Justiça do Trabalho.
Ela não casou, não teve filhos e perdeu o contato com os familiares.
Quando a mulher foi resgatada, ela trabalhava como cuidadora da dona da casa e dormia em um sofá, na entrada do quarto principal. Uma denúncia levou o Ministério do Trabalho até a casa, na Zona Norte da capital fluminense.
A narrativa usada pelos patrões nesse caso flagrado no Rio é parecida com a de muitos outros. Segundo os auditores fiscais, eles disseram que a vítima é uma pessoa da família, mas na prática, não havia esse vínculo.
Ela não podia sair, nem receber visitas, nem ter contato com a família porque eles não permitiam. Até a conta bancária da aposentadoria dela era controlada pelos patrões.
“Essa senhora, que os empregadores alegam que é da família — e não é —, fica absolutamente submissa. O empregador que fala por ela. Qualquer resposta que a gente solicita dela, é o empregador que responde. Os documentos dela não estão de posse dela mesma. O empregador que tem esses documentos”, contou Alexandre Lyra, auditor fiscal do trabalho.
Segundo as investigações, o patrão é André Mattos Maia. O Ministério Público do Trabalho vai denunciar a família. A pena pode chegar a oito anos de prisão.
O g1 não conseguiu contato com a defesa dos chefes da mulher.
Nenhum comentário