Foto: Theo Marques/Framephoto/Agência O Globo |
O julgamento ocorria desde o último dia 7 no plenário virtual do Supremo, sistema pelo qual os ministros depositam seus votos. Cabral é o único condenado da Lava-Jato no Rio que ainda estava na cadeia.
Em seu voto, Gilmar afirmou que a decisão não significa a absolvição de Cabral, mas apenas que nenhum cidadão pode "pode permanecer indefinidamente" em prisão cautelar. O ministro também disse que "causa perplexidade" que fatos ocorridos em 2008 e 2009 tenham servido de base para a decretação da prisão, em 2016. "Causa perplexidade, portanto, que fatos ocorridos nos anos de 2008 e 2009 tenham servido de esteio para a decretação de prisão preventiva no ano de 2016 , com fundamento na necessidade de garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal. Não bastasse essa impropriedade, chama atenção que o réu está preso preventivamente desde 17.11.2016, ou seja, há mais de 6 anos , a denotar manifesto excesso de prazo", escreveu o ministro.
"Ao que tudo indica, a manutenção da segregação cautelar do acusado tem servido como antecipação de pena, o que contraria frontalmente a orientação jurisprudencial sedimentada nesta Corte", escreveu Gilmar em outro trecho. "Não se trata, assim, de absolver o ex-governador do Rio de Janeiro pelo crimes imputados na ação penal n.º 5063271-36.2016.4.04.7000, nem de negar que os fatos narrados pelo órgão acusador são graves e demandam apuração rigorosa pelo Poder Judiciário. Se trata apenas de afirmar que, em um Estado Democrático de Direito, nenhum cidadão brasileiro, por mais graves que sejam as acusações que pesam em seu desfavor, pode permanecer indefinidamente submetido a medidas processuais penais extremas, como a prisão cautelar".
Ordem de prisão dada por Moro
Os ministros analisaram uma ordem de prisão expedida pelo então juiz Sergio Moro em 2016, que atuava na Vara Federal de Curitiba, no âmbito da Operação Lava-Jato. Outros mandados de prisão preventiva contra Cabral, na Justiça Federal do Rio de Janeiro, já foram derrubados.
A maioria dos ministros seguiu o voto de Ricardo Lewandowski, que considerou que o processo não deveria ter sido julgado na Justiça Federal do Paraná, e sim no Rio de Janeiro. "Conclui-se claramente inexistir qualquer conexão instrumental entre as imputações feitas ao paciente e os fatos geradores da competência territorial da 13ª Vara Federal de Curitiba", escreveu o ministro.
O ex-governador ficará em prisão domiciliar. Segundo o colunista Lauro Jardim, do Globo, Cabral vai morar num apartamento de 80 metros quadrados, com vista para o mar, num apart hotel entre o Arpoador e Copacabana, na Zona Sul do Rio.
A saída do governador da unidade prisional da PM, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, porém, não é imediata. O resultado ainda precisa ser proclamado pelo ministro André Mendonça, presidente da Segunda Turma. Só então o STF comunica a decisão à Vara de Execução Penal (VEP) responsável por executar a ordem de prisão de Cabral. O EXTRA apurou com integrantes do STF que a decisão que permitirá a soltura de Cabral só deverá ser expedida neste sábado.
"Não se mostra elemento idôneo para definição da competência a simples menção ao pagamento de vantagens indevidas a uma organização criminosa sediada no Rio de Janeiro por executivos da Andrade Gutierrez, à míngua de relação subjetiva ou objetiva diretamente vinculada ao suposto esquema criminoso descoberto na Petrobras e que justificou a fixação de competência pelo juízo do Paraná", afirmou ainda Lewandowski, acompanhado de André Mendonça e Mendes.
Já o relator do caso, ministro Edson Fachin, votou contra a derrubada da prisão de Cabral. Para ele, "o fato de terem passados mais de 5 (cinco) anos desde a decretação da prisão preventiva não importa, por si só, a revogação dessa medida mais gravosa, pois ainda se encontra demonstrada a sua necessidade".
Fachin foi acompanhado por Nunes Marques, para quem "a necessidade da manutenção da prisão cautelar está justificada na garantia da ordem pública, em razão da gravidade concreta dos crimes, do papel destacado do paciente na complexa organização criminosa, do seu poder de influência demonstrado nos autos e no risco concreto e razoável de reiteração delituosa".
Cabral ficará preso em casa
Após a decisão do STF, a defesa de Sérgio Cabral divulgou uma nota, dizendo que aguarda as decisões das outras ações penais e afirmando confiar "em uma solução justa": "O Supremo Tribunal Federal reconheceu a ilegalidade de se manter preso o ex-governador Sérgio Cabral e determinou que ele aguarde em liberdade o desfecho do processo. A defesa representada pelos advogados Daniel Bialski, Bruno Borragine, Patrícia Proetti e Anna Julia Menezes esclarece que ele permanecerá em prisão domiciliar aguardando a conclusão das demais ações penais e confia em uma solução justa, voltada ao reconhecimento de sua inocência e de uma série de nulidades existentes nos demais processos a que responde".
Segundo o advogado de defesa de Cabral, Daniel Bialski, ele deve ser solto neste sábado ou, no máximo, até segunda-feira. Apesar da prisão domiciliar, o ex-governador, de acordo com o advogado, poderá receber algumas visitas e ter acesso à internet.
— Tem que ser expedida uma comunicação do Supremo para a Vara de Curitiba, que precisa expedir o alvará de soltura e mandar para o Rio de Janeiro para ser cumprido. Eu vou tentar para que seja realizado no plantão judiciário de amanhã e, caso não consiga, segunda-feira, no mais tardar o governador estará em sua residência — afirmou.
Pai e filho na mesma cadeia por 21 dias
Durante os seis anos em que esteve preso, o ex-governador Sérgio Cabral passou por diferentes presídios até chegar à unidade da Polícia Militar em Niterói destinada a agentes de segurança. Foi ali que ele acabou encontrando seu filho José Eduardo Cabral, preso em 24 de novembro sob a acusação de integrar uma organização criminosa especializada no mercado ilegal de cigarro. Os dois estiveram na mesma cadeia por 21 dias até a juíza Rosália Monteiro Figueira, da 3ª Vara Federal Criminal do Rio, determinar a soltura de José Eduardo na última quinta-feira.
O filho do ex-governador é uma das 27 pessoas que tiveram prisões preventivas decretadas pela Justiça Federal, na Operação Smoke Free. Ele nunca se envolveu com política: é dono de uma empresa que organiza eventos. De acordo com as investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, José Eduardo é suspeito de atuar como operador financeiro de Adilson Coutinho Oliveira Filho, o Adilsinho, apontado como chefe da organização criminosa.
Com informações de Extra Online
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