Empresário Eduardo Rodrigues, suspeito de agiotagem e lavagem de dinheiro, aparece criticando comparsa por sacar apenas "50 conto". Ouça
Foto: Reprodução |
Áudios obtidos pela coluna Na Mira mostram o empresário Eduardo Rodrigues Silva, investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), indignado por um comparsa ter sacado apenas R$ 50 mil no banco.
O homem é suspeito de usar criminosos como laranjas para movimentar grandes quantias em dinheiro vivo. Ele é conhecido por vender joias a grandes jogadores do futebol mundial, entre eles o craque Neymar.
Eduardo Rodrigues é investigado no âmbito da Operação Huitaca, que apura crimes de extorsão, agiotagem e lavagem de dinheiro. O suspeito é considerado foragido.
Em um dos áudios obtidos no WhatsApp, o empresário conversa com uma pessoa criticando a demora de um terceiro para sacar o dinheiro, que seria retirado da conta de uma das suas empresas de fachada.
“Ontem, chegava em casa e fazia. Não fez ontem. Hoje, já mudou chave de segurança de não sei o que, de não sei o que. Vem me mandar negócio de 50 conto aqui e falou que o gerente falou aquilo. Não existe isso não, cadastro lá não tem esse negócio de 50 conto não. Tem limite, mas 50 conto? Aí agora vem dizer que não pode levar o cara no banco e não sei o que. Então, quando ia sacar ia sacar como? Não, essas conversa é tudo conversa errada, pô (sic)”, reclama.
Ouça os áudios abaixo:
Neymar é intimado pela PCDF
Atacante da Seleção Brasileira e do Paris Saint Germain, Neymar será intimado pela Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) na condição de testemunha para explicar a relação com o empresário radicado no DF. Eduardo já entregou uma corrente de ouro e diamantes e um anel de ouro e pedras preciosas para o jogador, além de ter viajado a Paris para participar da festa de aniversário do astro.
As investigações apontam que Eduardo, acusado de usar empresas para lavar dinheiro, transferiu grandes quantias para criminosos conhecidos da polícia. Um dos identificados é Cleyton Viana de Souza, que recebeu milhares de reais transferidos pelo empresário. Cleyton figura como autor em 13 inquéritos policiais por crimes como associação criminosa, tentativa de homicídio, extorsão, contrabando e receptação.
Mais transferências
O empresário, conhecido no DF por ostentar uma rotina semelhante à de atletas que atuam em alguns dos maiores clubes do mundo, também transferiu dinheiro para outro criminoso recentemente condenado pela Primeira Vara Criminal de Taguatinga por crime de receptação qualificada. André Luiz Ramos de Holanda recebeu mais de R$ 100 mil enviados por Eduardo.
As investigações conduzidas pela Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri) também identificaram que grandes quantias foram transferidas para a empresa Estevam Carnes Nobres e Exóticas Eireli. A firma esteve envolvida, em 2019, na Operação Bienna, da Polícia Civil de Goiás.
De acordo com a PCGO, entre os dias 26 e 27 de dezembro de 2018, por uma falha no sistema de conciliação de vendas com cartões de um banco privado, ocorreram créditos indevidos em contas correntes de centenas de clientes por todo o Brasil. Um desses era a empresa Estavam Carnes, que teve creditada em sua conta a quantia de R$ 18,6 milhões.
Ao perceber o elevado valor na conta, ainda no dia 27, o proprietário da empresa apropriou-se de parte desse valor e, com a intenção de dissimular o dinheiro, visando dar-lhe aparência lícita, realizou transferências eletrônicas por meio de internet banking que, juntas, somam R$ 1,1 milhão.
Ainda segundo a PCGO, as transferências foram realizadas para a conta do pai dele; outra conta da empresa mantida em instituição financeira diversa; e demais empresas. Essas transferências não foram concretizadas, pois conseguiu-se o bloqueio das operações. Porém, uma transferência no valor de R$ 280 mil foi efetivada como pagamento referente à aquisição de um veículo Porsche Boxter. O veículo era de Eduardo Silva.
A operação
As apurações da Corpatri apontaram que a empresa Conceito Comércio de Joias Eireli, cujo nome é EJ Joias, movimenta valores que não chegam nem perto do dinheiro que cai na conta de Eduardo e de seu braço direito, Vitor Duarte Nunes, também investigado no bojo da Operação Huitaca – o nome faz alusão à deusa mitológica da luxúria.
Ainda segundo a investigação, a transação envolvendo a joia de Neymar representou mais de 81% das operações de venda da empresa. Outras 11 notas fiscais eletrônicas de joias foram emitidas para o próprio Eduardo Rodrigues, sem a respectiva entrada de mercadoria ou matéria-prima.
Também se apurou que os demais empreendimentos que transacionaram com os investigados são de fachada e serviram apenas para a dissimulação dos valores sujos. Essas empresas foram criadas simultaneamente, funcionaram por poucos dias, e sequer geraram notas fiscais para os investigados ou para as empresas vinculadas a eles.
Relação com Neymar
Ambos se seguirem nas redes sociais e existe uma relação pessoal entre Eduardo e o craque Neymar. Além da corrente de ouro e diamantes, o empresário entregou ao jogador uma placa dourada acompanhada de um anel exclusivo forjado em ouro e pedras preciosas.
No Instagram, há fotos nas quais Eduardo faz questão de mostrar a entrega das joias. Uma das imagens, publicadas pelo empresário em 8 de fevereiro de 2017, mostra o jogador com uma corrente de diamantes. Essa foto possui a seguinte legenda: “A busca de um sonho é a loucura mais exata de realizar. Quando se trabalha duro em busca do que sonha, se conquista! Ter fé, pois fácil não é nem vai ser”.
Em outras duas fotos do empresário, publicadas em 22 de março de 2018, em São Paulo, o suspeito mostra a entrega de um anel de ouro a Neymar, com a seguinte legenda: “Mais uma joia feita com muito carinho pra gênio da bola Neymar. Obrigado pela atenção e confiança no trabalho!”, diz o empresário.
Com informações do Metrópoles - Carlos Carone, Ana Karolline Rodrigues, Mirelle Pinheiro
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