Condisi confirma morte de indígena de 33 anos morre por desnutrição, na última sexta-feira. Ministra Sônia Guajajara destaca que foram seis anos de descaso como os indígenas
Foto: Weibe Tapeba/Sesai/Divulgação |
O Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana(Condisi) confirmou sábado (28/1) a morte de uma indígena de 33 anos, na sexta-feira (27), em Boa Vista, por desnutrição. Ela estava internada na UTI do Hospital Geral de Roraima. Duas crianças, filhas da mulher, estão internadas em tratamento por desnutrição grave.
De acordo com o presidente do Condisi, Júnior Hekurari Yanomami, ao menos outras cinco pessoas teriam morrido em comunidades dentro da Terra Yanomami ontem (28/1). O grupo enfrenta uma grave crise sanitária.
Na última semana, o Ministério da Saúde revelou que só em 2022, pelo menos 99 crianças entre um e quatros anos do povo ianomâmi morreram devido ao avanço do garimpo ilegal na região. As causas da mortes variam entre desnutrição, malária e pneumonia.
Dados obtidos pelo Correio Braziliense por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), apontam que a desnutrição matou 345 indígenas em quatro anos, quase 100 a mais do que nos quatro anos anteriores. Em 2021, foram 107 mortes entre indígenas — só pela desnutrição.
Em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação, na sexta-feira, a ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara destacou a situação de vulnerabilidade de diversos povos. "Tivemos seis anos de muita ausência do poder público. Ianomâmi é uma pontinha do iceberg", afirmou. A ministra citou os casos dos povos arariboia e guajajara, no Maranhão, uru-eu-wau-wau, em Rondônia, karipuna, no Acre, e munduruku, no Pará. "Todas essas áreas estão com situação grave de madeireiro ou de garimpeiro e, com isso, [há] uma insegurança geral de saúde e alimentar", disse.
Novos territórios
Em meio a grave crise sanitária, a ministra anunciou que terras indígenas em oito estados brasileiros estão aptas para serem reconhecidas. Ao todo, 14 projetos estão prontos para homologação pelo governo federal.
Os territórios estão localizados no Ceará, Bahia, Paraíba, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Acre, Amazonas e Mato Grosso. "Temos 14 processos identificados, que estão com os estudos prontos, concluídos, já têm a portaria declaratória. A gente espera que o presidente Lula possa assinar a homologação", disse.
A demarcação foi retomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os processos foram paralisados durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. No fim do ano passado, durante a transição, o grupo de trabalho temático já havia incluído uma lista das 13 áreas aptas para reconhecimento como territórios indígenas. Ao todo, elas somam cerca de 1,5 milhão de hectares.
Sônia Guajajara também mencionou a situação dos indígenas guarani-kaiowá. Eles vivem em área ainda não demarcada e que é disputada por fazendeiros. "Temos recebido demanda do guarani-kaiowá. Eles vivem em áreas de retomadas e isso dificulta a produção de alimentos. Tem a situação do povo pataxó, também numa área de retomada. É uma terra indígena que aguarda portaria declaratória do governo federal. [Há também] os awá guarani, no Paraná, que têm procurado a gente para dar uma atenção especial", acrescentou.
O Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, que concentra o maior número de povos indígenas isolados de todo o país, é outro foco de preocupação para o governo.
Espancamento
Um indígena identificado como Valdemar Marciano Guajajara foi encontrado morto na manhã de ontem em Amarante do Maranhão (MA). Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o corpo foi encontrado com marcas de espancamento. Ele morava na aldeia Nova Viana, na Terra Indígena Arariboia.
Com informações do Correio Braziliense - Agência Brasil/Michel Medeiros Especial para o Correio
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