O primeiro mês do terceiro mandato de Lula como presidente da República chegou ao fim. Em entrevista à RedeTV!, o petista faz um balanço
Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles |
O primeiro mês do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República chegou ao fim nesta semana. O petista, em entrevista concedida à RedeTV! e televisionada nesta quinta (2/2), fez um balanço sobre as movimentações do último janeiro, apresentando sua visão sobre os atos golpistas do dia 8/1, o caso das lojas Americanas, além da reeleição de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como respectivos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Além disso, cobrou julgamento de Jair Bolsonaro (PL), seu antecessor, pela crise dos Yanomamis e as mortes causadas pela pandemia de Covid-19 no Brasil. O atual presidente diz reunir provas contra seu antecessor.
Lula voltou a chamar Bolsonaro de genocida, afirmando que o ex-presidente se colocou contra as orientações da comunidade científica, negando-se à compra célere de vacinas e a incentivar a vacinação. O petista afirma que seu adversário, hoje recluso nos Estados Unidos, preferiu comprar cloroquina e investir no discurso de que os imunizantes apresentariam efeitos colaterais, inclusive a morte.
O presidente foi questionado se, diante das declarações do senador Marcos do Val (Podemos-CE) acerca de um suposto plano de Bolsonaro para prender Alexandre de Moraes e mudar o resultado da eleição, o ex-presidente deveria ser punido. “Defendo a presunção de inocência, não quero que façam com ele o que fizeram comigo”, comentou Lula. O presidente, porém, disse, acreditar na culpa do seu antecessor acerca da tentativa de golpe.
“Ele disse as maiores barbaridades, por isso que eu tenho chamado ele de genocida, porque ele em algum momento vai ser julgado. Quem sabe algum dia um grupo de pessoas que tiveram parentes mortos na Covid, quem sabe essas pessoas abrem um processo nele até em nível internacional. Porque esse cidadão teve a pachorra de desrespeitar tudo aquilo que a gente tinha de normalidade na política brasileira. Ele ofendeu a Suprema Corte, ele ofendeu o Congresso Nacional, ele ofendeu o papa, ele ofendeu o Macron, ele ofendeu a mulher do Macron, ele ofendeu todo mundo. Ele é descarado”, disse o presidente na entrevista.
Ainda sobre os atos golpistas do dia 8/1, o presidente afirma que bolsonaristas não realizaram a incursão à Praça dos Três Poderes no dia da posse por causa do forte esquema de policiamento. “Este cidadão preparou o golpe. (…) Eu tenho certeza que o Bolsonaro participou ativamente disso e ainda está tentando participar. Ou seja, ele é um cidadão quase que um psicopata. Esse cidadão não pensa, ele não raciocina, ele vomita as coisas com o maior desrespeito do mundo, com a maior falta de objetividade e de sinceridade do mundo”, diz.
Lula afirmou, ainda, que a invasão do dia 8/1 foi uma tentativa de golpe. O presidente afirma ter descartado prontamente a execução de uma GLO e que considerou a intervenção como melhor forma para restaurar a ordem. “Não posso afirmar que as Forças Armadas foram favoráveis, mas muita gente estava. Houve tempo que não podia pisar na grama do quartel, mas deixaram o povo ficar pedindo golpe”, reclamou.
O presidente, em tempo, se disse satisfeito com o papel do general Tomás Paiva, novo comandante das Forças Armadas. “Ele tem discurso legalista. Acho que as Forças Armadas podem prestar um serviço enorme ao país. Ele defende a recuperação das Forças no cumprimento do que está assinado na nossa Constituição”.
Questionado se pensa em reeleição, Lula afirmou que não pensa ser candidato em 2026. O presidente, porém, brinca e deixa a possibilidade em aberto: “Eu vou estar com 81 anos de idade, sabe. Eu preciso aproveitar um pouco a minha vida porque eu tenho 50 anos de vida política. Isso é o que eu posso dizer agora. Agora se chegar num momento e tiver uma situação delicada e eu estiver com a saúde perfeita, 81 de idade, energia de 40 e tesão de 30…”.
Ainda sobre o futuro, Lula pede calma para a melhoria dos indicadores sociais, envolvendo pobreza a combate à fome. Nesse sentido, ele cita questões herdadas pelo atual governo, como o encolhimento do valor do salário mínimo. O petista também fez críticas à reação do mercado financeiro às políticas de distribuição de renda e combate à miséria promovidas pelo Governo Federal. Ele também garantiu a realização de uma reunião com os bancos e empresários para revisão da taxa de juros, definida pelo Copom em 13,75%.
Lula diz reunir provas contra Bolsonaro sobre crise Yanomami
Ao citar a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami, o petista afirma ter reunido diversos discursos de Bolsonaro para garimpeiros. Lula afirma que o adversário orientou os invasores jogar mercúrio, substância responsável pelo envenenamento da população local, e fezes na água dos rios. Além disso, cita orientações para invasão de terras.
“Eu acho que o Bolsonaro, em algum momento, será julgado. Não sei se a pena dele vai ficar inelegível ou não, mas ele cometeu um crime, na minha opinião. Ele tem que ser julgado em algum momento por genocídio contra a população vítima do Covid e pelo o que aconteceu com os Yanomami”, defende Lula.
Reeleição de Arthur Lira e Jair Bolsonaro
Ainda durante a campanha eleitoral de 2022, o então candidato Lula criticou Arthur Lira. Em maio, afirmou que o presidente da Câmara tinha “poder imperial”, e o acusou de querer retirar poder do presidente ao criar o semipresidencialismo”. Já neste ano, o petista fez um acordo com o deputado e a bancada do partido do presidente da República apoiou o alagoano na sua reeleição, consolidada nessa quarta-feira (1º/2)
“Nós estamos disputando um campeonato. O campeonato tem primeiro turno e segundo turno. Daqui a dois anos, vai ter outra eleição e possivelmente outra pessoa seja eleita, tanto na Câmara como no Senado. Entendemos, enquanto Partido dos Trabalhadores e enquanto governo, que era importante o Lira na presidência, porque a gente não precisaria colocar alguém com pouca experiência para presidir a Câmara. Eu acho que, se soubermos trabalhar corretamente, o Lira vai cumprir todos os acordos”, disse Lula.
O petista também afirma ter a quantidade de deputados necessária para ganhar em cada proposta. Apesar disso, ele defende a necessidade de articulação. Nesse sentido, considera que Arthur Lira será ser uma peça importante, assim como Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reeleito presidente do Senado.
“Vamos discutir, vamos conversar, fazer quantas reuniões forem necessárias, você sabe que eu gosto de reuniões. Então eu não terei problema de fazer quantas reuniões forem necessárias para que a gente estabeleça a boa governabilidade do Brasil”, disse Lula.
O petista afirma ter estabelecido uma boa relação, tanto com Lira quanto com Pacheco. Sobre a votação do bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN) na eleição para a presidência do Senado, Lula desacredita que a oposição tenha 32 votos em diversas votações na Câmara Alta.
“Eles vão ficar com menos. Algumas pessoas que não votaram no Pacheco, inclusive gente do partido dele, não votaram por discordância de alguma coisa, com outros senadores, mas eu estou certo que convenceremos a votar em propostas que o governo mandar para lá. Nem todo senador votará igual em todas as votações. O que nós precisamos é saber o seguinte: o Congresso Nacional precisa menos do governo do que o governo do Congresso Nacional. Então quem tem que ter disposição, vontade de conversar é o governo. E isso eu gosto de fazer. Por isso eu acho que o Pacheco vai ajudar e o Lira vai ajudar”, crava.
Lula, tem tempo, também defendeu a valorização da relação do Brasil com países vizinhos e o novo ingresso do país na Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), além do fortalecimento do comércio com a China.
Com informações do Metrópoles - Augusto Tenório
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