Série de filmagens feita pela idosa, na janela de casa, nos anos 2000, levou à investigação que prendeu mais de 30 pessoas
A idosa que ficou conhecida como Dona Vitória, após uma série de filmagens que resultou em investigações criminais no Rio de Janeiro, morreu nessa quinta-feira (23/2), aos 97 anos. Vivendo há quase 20 anos no anonimato, por questões de segurança, ela também teve o nome revelado: Joana Zeferino da Paz.
Nos anos 2000, a idosa conseguiu registrar, por meio de vídeos feitos da janela da casa onde morava, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, diversas movimentações de criminosos e policiais militares ligados ao tráfico de drogas na Ladeira dos Tabajaras. Os vídeos deram origem a uma investigação que resultou em mais de 30 prisões.
Joana era alagoana, mas morreu na Bahia.
O caso foi revelado em 2005, pelo jornal Extra. Joana morava em um apartamento na Praça Vereador Rocha Leão, de fundos, que dava para a Ladeira dos Tabajaras. Pela janela, começou a ver a movimentação de traficantes em uma boca de fumo.
Gravações
Conforme foi apurado à época, a idosa entrou com uma ação contra o Estado em razão da desvalorização de seu imóvel, local onde ela morou por 36 anos. As filmagens seriam, inicialmente, para desmentir a alegação, dentro da ação judicial, de um coronel da PM, que disse que a moradora mentia sobre a existência do tráfico, que seria combatido pelo batalhão.
Por isso, Joana decidiu comprar uma câmera de filmar e gravar as cenas que via cotidianamente. As fitas, que mostravam as negociações e movimentações do tráfico de drogas, foram entregues à Polícia Civil, que deu início à investigação.
Além dos traficantes, foram condenados policiais militares por omissão e pelo recebimento de propinas para fazer vista grossa para o crime organizado.
Mudança de vida
Joana morreu na Bahia, após 17 anos vivendo sob um anonimato forçado, por questões de segurança.
Em seu testemunho publicado no Jornal Extra, Fábio Gusmão, que fez a reportagem na época e seguiu acompanhando o caso, conta que Joana deixou o imóvel onde viveu por 36 anos para ingressar no Programa de Proteção à Testemunha.
Começou ali uma vida de “privações, angústia, desapego e resiliência”. “O seu desejo, há anos, era ter o reconhecimento público”, escreveu Gusmão.
Com informações do Metrópoles - Laura Braga
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