Maria Orquídea conseguiu na Justiça que o GDF garanta sua cirurgia para tirar tumor do rosto. Ela, porém, ainda não realizou o procedimento
Aos 101 anos, uma moradora do Guará I aguarda na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) por uma cirurgia para retirar um tumor do rosto. Há meses Maria Orquídea Pereira (foto em destaque) tenta, mas ainda não sabe quando nem se vai conseguir o procedimento na rede pública do Distrito Federal.
A paciente tem câncer de pele e já não consegue enxergar com um dos olhos por conta do tumor que cresce em um dos lados da face.
De acordo com a neta de Maria, Vanessa de Lima Pereira Cabral, 53, a idosa vivia em Ubajara, no Ceará, até o início do ano passado. “Ela morava com meu pai, que morreu em janeiro de 2022. Depois disso, veio morar comigo aqui”, conta.
“Esse tumor apareceu na bochecha da minha avó há alguns anos. Mas, ela vivia no interior e o médico não identificou o câncer. De um tempo para cá, ele aumentou e atingiu a pálpebra”, narra a neta.
No meio do ano passado, Vanessa levou Maria ao Hospital Regional do Guará (HRGu), que encaminhou a idosa ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A paciente começou a ser acompanhada naquela época, mas só conseguiu fazer uma cirurgia em novembro.
A operação seria para retirada do tumor. Porém, mesmo depois do procedimento, o câncer voltou a crescer no rosto de Maria Orquídea. “De dezembro para cá aumentou muito. Então, procurei a Defensoria Pública para entrar na Justiça e ela conseguir essa cirurgia que retire tudo”, diz.
Em 26 de janeiro, a Justiça determinou que o GDF garantisse a cirurgia à paciente. O procedimento deveria ser feito na rede pública, ou, em caso de indisponibilidade, junto à rede privada de saúde, no prazo de 15 dias, sob pena de bloqueio de verbas públicas.
Adiado
De acordo com o processo judicial, o procedimento foi autorizado para o mês de fevereiro. Nessa terça-feira (28/2), Maria aguardava liberação de sala cirúrgica no Hran, mas não conseguiu.
No relatório médico consta que a paciente foi regulada com máxima prioridade, “porém houve um crescimento muito rápido e invasivo da lesão, com provável comprometimento de vias lacrimais, fundo de saco conjuntival, globo ocular e fundo maxilar”.
Os médicos pontuam que, devido à extensão e gravidade da lesão, a idosa deve ser operada por equipe multidisciplinar composta por cirurgia de cabeça e pescoço e cirurgia plástica oncológica/reparadora em hospital com leito de UTI. Diante das novas exigências, não seria possível realizar o procedimento nessa terça, uma vez que o Hran contava apenas com a equipe de cirurgia plástica.
“Como não dispomos de cirurgia de cabeça e pescoço no Hran e os leitos de UTI são regulados, sugerimos que a paciente seja operada em hospital com equipe multidisciplinar e disponibilidade imediata de leito de UTI para o pós-operatório”, diz o relatório.
Para a neta de Maria, a demora demonstra descaso. “Nisso, o câncer já está tomando a metade do rosto dela todo. A ferida está aberta, ela tem muita dor e sangramento. Não pode mais esperar”, lamenta.
Preços da cirurgia
Uma vez que a Secretaria de Saúde ainda não solucionou o problema, a Defensoria Pública requereu a juntada dos orçamentos para eventual sequestro de verbas públicas no valor suficiente para custear o tratamento pleiteado.
Para retirar o tumor e reconstruir a pálpebra de Maria, hospitais particulares do DF cobram valores que vão de R$ 89,5 mil a R$ 125,1 mil.
“Minha avó não tem pressão alta, não tem diabetes, tem as taxas todas normais, é lúcida e bem-humorada. Aí, acontece isso e ela não consegue ajuda. É um descaso o governo deixar chegar a esse estado”, desabafa Vanessa.
O que diz a Secretaria
Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria de Saúde do DF disse que, devido à gravidade, a paciente “foi encaminhada para a equipe de Cabeça e Pescoço do Hospital de Base, que irá liderar um tratamento em conjunto”. “A equipe médica está em contato com a família da paciente”, informou a pasta.
Com informações do Metrópoles - Ana Karolline Rodrigues
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