Rita foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra doença
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O Brasil está de luto. Morreu, aos 75 anos, a eterna rainha do rock, Rita Lee, nessa segunda-feira (8/5), em casa, em São Paulo. Ela deixa o marido, Roberto de Carvalho, com quem teve três filhos: João, Antônio e Beto Lee. A informação foi confirmada pela família em uma nota oficial publicada no Instagram.
"Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, cercada de todo o amor de sua família como sempre desejou. O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira, dia 10, das 10h às 17h. De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimônia será particular. Nesse momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos", diz o anúncio.
O título de rainha ela rejeitava, por achar cafona, mas os fãs insistem em usar devido à falta de adjetivo ou de palavra que possa resumir sua potência e lendária contribuição para a música nacional e internacional.
Como um dos pilares da música brasileira, Rita Lee foi uma musicista completa: além de cantora, era compositora, multi-instrumentista, atriz, escritora e ativista; e ainda poliglota — fluente em português, inglês, francês, castelhano e italiano.
Ganhou mais de 20 prêmios ao longo da carreira, incluindo dois Grammys (ao qual foi indicada por sete vezes): em 2001, venceu com o Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa, por 3001; e, em 2022, pelo conjunto da obra, levou o Prêmio Excelência Musical da Academia Latina de Gravação.
Além de vários álbuns com Os Mutantes, banda que a consagrou, Rita Lee lançou 18 álbuns de estúdio solo e em parceria com Roberto, e seis ao vivo. Participou como atriz de novelas famosas como Top Model e Vamp, e em cerca de 10 filmes. Rita também revolucionou a cena feminina na música ao ser uma das poucas mulheres de sua época a tocar guitarra.
Ela é dona de vários sucessos que foram verdadeiras trilhas sonoras por décadas dos brasileiros, como Ovelha Negra, Doce Vampiro, Mania de Você, Amor e Sexo, Erva Venenosa (Poison Ivy), Pagu, O Amor em Pedaços, Agora só falta você, Minha Vida (In my life), Jardins da Babilônia, entre muitos outros hits históricos. Vários álbuns também foram lançados em seu tributo, como Baby, Baby, de Lulu Santos (em 2017); e o musical Rita Lee Mora ao Lado, estrelado por Mel Lisboa (2014), celebrou sua trajetória.
Saúde
Em maio de 2021, aos 73 anos, Lee foi realizar um exame de saúde de rotina e acabou diagnosticada com um tumor no pulmão esquerdo. Após tratamento, em abril de 2022, os exames não detectaram mais o tumor.
Porém, apesar de no último 13 de fevereiro deste ano o marido de Rita ter compartilhado um clique raro dela tomando banho de sol, com os cabelos curtos e uma xícara na mão, poucos dias depois, em 24 de fevereiro, a cantora foi internada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Origens
Rita Lee Jones de Carvalho nasceu em uma véspera de Ano-novo, em 31 de dezembro de 1947, em São Paulo. Ela é a filha mais nova do dentista Charles Fenley Jones, paulista descendente de imigrantes norte-americanos, e de Romilda Padula, paulista, filha de imigrantes italianos. Além de Rita, o casal teve Mary e Virgínia Lee Jones.
Após frequentar escola franco-brasileira, Rita chegou a estudar Comunicação Social na Universidade de São Paulo, em 1968, mas não completou o curso. Estudou piano clássico na infância, mas se interessou mesmo pela música na adolescência, ao compor suas próprias canções. Foi quando começou a participar de bandas de rock, como Tutti Frutti e as Teenage Singers.
Em 1964, a banda conheceu o trio Wooden Faces e se fundiram, formando o Six Sided Rockers (que depois mudou o nome para Os Seis). Após três componentes da banda desistirem, Rita, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias fundaram a banda Os Bruxos, que mais tarde se tornaria a grande Os Mutantes, por sugestão do cantor Ronnie Von.
Os Mutantes tocaram por seis anos (de 1966 a 1972) e gravaram seis álbuns. Hits como Minha menina e Ando meio desligado marcaram a MPB.
Rita se casou com o companheiro de banda Arnaldo e a união durou de 1968 a 1972 (o divórcio só foi assinado em 1977). A separação do casal e divergências artísticas entre os membros da banda culminaram na expulsão de Rita do trio, pelo próprio Arnaldo. A parceria com componentes dos Mutantes, entretanto, ainda renderia dois discos solo para Lee (Build, em 1970, e Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida, em 1972).
Ela conheceu o músico carioca Roberto de Carvalho ainda em 1970, e teve seus três filhos em 1977, 1979 e 1981. Depois de 20 anos com ele, no amor e na música, a cantora se casou pela segunda vez, no cartório, em 1996.
Vovó Ritinha
A cantora também se dedicou à literatura e descobriu o universo infantil. Publicou pela editora Globinho o livro Dr. Alex e Vovó Ritinha – Uma aventura no espaço. Na obra, o seu personagem, a Vovó Ritinha, sai por aventuras e descobertas com o ratinho Dr. Alex.
Nas últimas linhas de sua autobiografia, poética e potente como a cantora, ela escreve: “Sei que ainda há quem me veja malucona, doidona, porra-louca, maconheira, droguística, alcoólatra e lisérgica, entre outras virtudes. Confesso que vivi essas e outras tantas, mas não faço a ex-vedete-neo-religiosa, apenas encontrei um barato ainda maior: a mutante virou meditante. Se um belo dia você me encontrar pelo caminho, não me venha cobrar que eu seja o que você imagina que eu deveria continuar sendo. Se o passado me crucifica, o futuro já me dará beijinhos”.
E continuou, escrevendo sobre o que almejava fazer com o tempo que lhe restava – a publicação é de 2016: “Tempo para curtir minha casa no mato, para pintar, cuidar da horta, paparicar meus filhos, acompanhar minha neta crescer, lamber meus bichinhos, brincar de dona de casa, escrever historinhas, deixar os cabelos brancos, assistir novela, reler livros de crimes que já esqueci quem eram os culpados, ler biografias de celebridades com mais de setenta anos, descolar adoção para bichos abandonados, acompanhar a política planetária, faxinar gavetas, aprender a cozinhar, namorar Roberto e, se ainda me sobrar um tempinho, compor umas musiquinhas.”
Com informações do Correio Braziliense - Mariana Niederauer, Lorena Pacheco, Roberto Fonseca
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