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Casa da Mulher Brasileira: DF terá mais três unidades para acolhimento

Na única unidade, em Ceilândia, vítimas de violência doméstica ou em situação de vulnerabilidade social recebem atendimento psicológico e capacitação profissional. Três novos estão em construção no Distrito Federal. previsão de entrega para este ano


Kayo Magalhães/CB/D.A Press
Em um prédio no centro de Ceilândia, mulheres vítimas de violência ou em situação de vulnerabilidade social buscam proteção e acolhimento. Lá, tudo é pensado para elas. No elevador, por exemplo, há mensagens no espelho, como "Você merece ser muito feliz" e "Você não aceita nenhum tipo de violência", que reforçam o objetivo do espaço.

"Elas chegam muito fragilizadas emocionalmente. Por vezes, as feridas são físicas também", relata a diretora da Casa da Mulher Brasileira (CMB), Cléia Souza. No local, há alojamentos, atendimentos psicológicos, capacitação profissional, mas, sobretudo, esperança. E outras três unidades deverão ser entregues ainda este ano.

As mulheres têm acesso à Casa ora encaminhadas pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) ou pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), ora de forma espontânea, em busca de orientações. A triagem, momento inicial em que elas conversam com os agentes, ocorre no primeiro andar. Nesse contexto, o alojamento é oferecido por 48 horas àquelas que não têm redes de apoio ou precisam de mais tempo para se organizarem. As filhas, de qualquer idade, e os filhos, de até 12 anos, podem acompanhá-las. São 14 camas, sala de tevê, brinquedoteca e refeitório.

Quando chegam aos alojamentos, todas as mulheres recebem um kit de higiene completo, com absorventes, sabonetes, escovas de dente etc, assim como, para a criança, há os insumos necessários, como fraldas e lenços. O café da manhã, geralmente, é servido entre 8h e 8h30, podendo se estender caso alguma mulher tenha tido uma noite difícil. Depois, vem o almoço, de meio-dia às 12h30, com um lanche da tarde, às 15h. Ao fim do dia, às 22h, é servido chá ou suco, com biscoito, pão, fruta e o que vem no cardápio do dia.

O segundo andar é dedicado ao Empreende Mais Mulher, programa que visa capacitá-las com palestras, cursos e oficinas, via parcerias com entidades da cidade, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). Há, por exemplo, workshops de costura, laboratório de informática, para alfabetização digital, e práticas de defesa pessoal. Além disso, pelo menos uma vez por mês, as mulheres e seus filhos recebem atendimentos em saúde, com aplicação de vacinas e exames preventivos. O objetivo é que elas sejam encaminhadas ao mercado de trabalho e tenham autonomia financeira.

Já a assistência psicossocial ocorre no quarto andar, com o atendimento de psicólogos, pedagogos e assistentes sociais. Há o primeiro contato, feito após a triagem, e os acompanhamentos periódicos, que podem ser semanais, quinzenais ou mensais. Inicialmente, esses acolhimentos são individuais e, conforme a situação se estabilize, há a possibilidade de intervenções em grupos. "É importante que elas percebam que não estão sozinhas e que outras mulheres a compreendem porque já passaram por essas dificuldades também", comenta a assistente social Karuze Feitosa. Na CMB, cada caso é analisado, a fim de se traçar uma rota de resolução do problema, em parceria com outros órgãos — com sanções também ao agressor.

Força para seguir

Celeste (nome fictício), 43 anos, é um exemplo de mulher que sobreviveu à violência doméstica com ajuda de programas do governo. Antes da Casa da Mulher Brasileira, ele teve auxílio do Viva Flor, um programa que oferece um sistema de segurança preventiva para mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar que estejam sob o resguardo de medida protetiva de urgência. O dispositivo é instalado no celular da mulher e permite, nos casos classificados como de risco extremo, a possibilidade de acionar a polícia com apenas um toque na tela inicial do aparelho. "Cheguei a acionar o dispositivo uma vez e funcionou. Em poucos minutos, a polícia estava na minha casa", explicou.

Ela hoje é uma das mulheres atendidas pela CMB de Ceilândia e relata que, graças ao acolhimento recebido, tomou conhecimento de todas as ferramentas de proteção oferecidas pelo governo, pela polícia e pela Justiça. "Frequento a Casa há três anos. No início, eu ia toda semana, agora vou com uma periodicidade menor. Lá, nós temos todo apoio jurídico e psicossocial. Tudo que recebi ali me fortaleceu para seguir em frente", declarou.

Celeste conta, ainda, que foi encaminhada à Casa da Mulher Brasileira pela Justiça. "Fui à delegacia denunciar o meu marido e, de lá, me encaminharam direto para uma audiência na Justiça, onde consegui uma medida protetiva contra meu ex-marido e onde me apresentaram a Casa", relatou. "É possível sair dessa. Precisamos entender que não somos um objeto nas mãos de um agressor", completou.

A diretora, Cléia, reforça que o quanto as mulheres se fortalecem após a passagem pela CMB. "Quando a mulher rompe o ciclo de violência, ela enxerga um recomeço e sai daqui fortalecida e com a autoestima elevada. Sente-se dona do próprio destino", conclui.

Um primeiro passo

Entre janeiro e junho deste ano, 2.615 mulheres foram atendidas na Casa da Mulher Brasileira de Ceilândia — a Secretaria da Mulher não consegue precisar se esse número também considera mulheres que já foram a CMB em mais de uma vez. Todavia, por ser um dos mecanismos mais eficientes, especialistas ouvidos pelo Correio apontam que são necessárias mais unidades de atendimento. 

A co-fundadora do Instituto Retomar, Thais Solon, pontuou que o primeiro passo é tornar essas casas um ambiente acolhedor, porque muitas mulheres que utilizam esse mecanismo já passaram por momentos de grande sofrimento. Diversas delas que estão ali já perderam a sua autonomia e passaram por momentos traumáticos, os quais criaram memórias negativas e até gatilhos, gerando crises de ansiedade, depressão, entre outros. Diante disso, além da ergonomia ideal, é importante que estes espaços possuam distribuições e estímulos positivos favoráveis a um processo de resiliência após o rompimento do ciclo da violência.

"Sabemos que a CMB é um espaço temporário, e tais adequações são importantes também nos espaços em que elas permanecerão por mais tempo, como as casas abrigo, contudo, a CMB não deixa de ser o primeiro passo a uma vida livre da violência, é onde todo esse processo começa. Não podemos esquecer dos filhos e filhas dessas mulheres, que também são impactados. É importante que seus espaços de convivência sejam lúdicos e os tragam para uma sensação de segurança, garantindo também os seus direitos", assinala.

Assistente social da Secretaria da Mulher, Mariana Curvina alega que, mesmo sendo um alojamento temporário, o instrumento público funciona bem, dando tempo para o encaminhamento da vítima para outras providências. Caso necessário, dando continuidade no atendimento ou conduzindo para uma casa de abrigo. "Para que o encaminhamento se dê de forma adequada, é necessário que o espaço garanta as especificidades necessárias durante o período que a mulher está lá. Além disso, é importante que esse espaço esteja sempre sendo revisto, quando necessário, para manter a quantidade de profissionais suficiente e capacitados para esse processo de recuperação e o ambiente esteja sempre adequado", explicou.

Conquista importante

O governo do Distrito Federal quer sair do aluguel que paga para manter o funcionamento da única Casa da Mulher Brasileira, em Ceilândia, e ter um prédio próprio. Para isso, o Executivo iniciou tratativas com o governo federal para a compra de um terreno, de preferência na própria região administrativa.

Com o aval do Ministério das Mulheres, o desejo do governo é que a unidade seja construída, substituindo a atual — enquanto as obras perdurassem, o governo manteria o contrato de aluguel vigente. Somadas a essa, o governador Ibaneis Rocha (MDB) já assinou a ordem de serviço para a construção de mais três unidades, com a previsão para serem entregues em dezembro deste ano, para o atendimento de mulheres em situação de violência e vulnerabilidade social.

As localizações já foram escolhidas e as obras iniciadas em Sobradinho II, São Sebastião e Recanto das Emas. Elas terão recepção, depósito, copa, banheiros e salas de coordenação técnica, de atendimento individual, multifuncional, atendimento em grupo e convivência, além de brinquedoteca e fraldário. Todas funcionarão 24 horas por dia.

Para a secretária da Mulher, Giselle Ferreira, é importante a ampliação de CMBs no DF para que se promova o bem-estar e o acolhimento de mulheres em situações de violência, oferecendo e aperfeiçoando o que é oferecido para as mulheres. O recurso orçamentário dos contratos de repasse para construção e mobiliário das quatro são de cerca de R$ 4,9 milhões de emendas federais e R$ 3,9 milhões da Fonte 100 do GDF. 

"A Casa da Mulher Brasileira de Ceilândia foi uma conquista importantíssima para a população, e queremos democratizar cada mais esses espaços. Chegamos a um entendimento junto com a Caixa Econômica e conseguimos assinar a ordem de serviço dessas três casas", explicou. "A intenção foi nos aproximarmos mais das mulheres. Precisamos interromper o ciclo de violência, e para isso, também temos várias outras frentes", completou, ao Correio.

Para essas novas unidades, a pasta deu posse a 31 novos servidores em maio. A equipe é formada por psicólogos, pedagogos e assistentes sociais, que irão fazer parte do quadro de funcionários das novas Casas.


Com informações do Correio Braziliense  - Pablo Giovanni, Letícia Mouhamad, Mila Ferreira

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