Entre os documentos estavam recibos de pagamento para o analista do MPDFT, feitos entre 2017 e 2019. Somados, valores chegam a R$ 140 mil
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Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão na luxuosa propriedade do empresário Ronaldo de Oliveira, investigadores da 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia) encontraram uma espécie de compartimento oculto, na laje da mansão. A ação ocorreu no âmbito da operação Old West, deflagrada na quarta-feira (20/12).
No local pouco iluminado e de difícil acesso, estavam documentos com inúmeros recibos de pagamentos de propina para um analista do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que advogava indiretamente para o empresário e mantinha o “chefe” informado sobre dados sigilosos relacionados a processos que tramitavam na Justiça.
Analisando os documentos, os policiais identificaram que a propina foi paga entre os anos de 2017 e 2019. Somados, os depósitos totalizam R$ 140 mil. O balanço financeiro estava dentro de uma pasta que levava o nome do servidor seguido da expressão “advogado”. Os valores foram creditados nas contas da esposa e da mãe do analista. Também foi identificado o pagamento de fatura de cartão de crédito do servidor.
Prisão preventiva
Com a localização das novas provas, a Polícia Civil irá pedir a prisão preventiva do servidor do MPDFT. A coluna teve acesso a documentos indicando que o analista continuou a prestar consultoria para a organização criminosa após a deflagração da Operação Trickster, por intermédio de advogados. Ele fazia as minutas e pedia para os profissionais assinarem as peças.
Além do servidor, a 18ª DP pediu à Justiça a conversão em preventiva das prisões temporárias de Ronaldo de Oliveira, sua mulher e seus dois filhos, todos presos durante o cumprimento de mandado da Old West.
Relação próxima
A relação entre o analista do Ministério Público e o empresário era tão próxima e constante que foram identificadas 122 ligações telefônicas entre os dois até 24 horas antes de ser deflagrada a Operação Trickster.
As investigações ainda mapearam que uma empresa pertencente a Ronaldo de Oliveira transferiu R$ 10 mil, entre janeiro e março de 2020, para a conta da esposa do analista.
No período dos depósitos, o empresário estava foragido, com mandado de prisão preventiva em aberto. Ronaldo foi preso só 28 de setembro de 2o20.
No entanto, mesmo antes de a Operação Trickster ser desencadeada, o analista do MPDFT continuou a prestar serviços advocatícios ao empresário em troca de dinheiro.
“Dono de Brazlândia”
As apurações revelaram que, após ser investigado e preso no âmbito da Operação Trickster, o empresário desenvolveu um esquema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.
Para isso, o empresário apontado como “dono de Brazlândia” usou um supermercado que funcionava sob diferentes CNPJs e contas-poupança em nome de testas de ferro para lavar centenas de milhares de reais. O estabelecimento era de fachada, segundo a polícia, e tinha um dos filhos de Ronaldo de Oliveira como suposto proprietário.
O empresário teria usado o empreendimento para ocultar a propriedade e dissimular valores faturados por meio do estelionato contra a administração pública e da corrupção de agentes públicos. Além de Ronaldo de Oliveira, a organização criminosa é integrada pela companheira, pelos filhos, por uma nora e uma cunhada dele, segundo as investigações da 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia).
Caminho do dinheiro
Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curvas” para driblar as autoridades.
O fluxo do dinheiro começa com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, segundo as investigações, mas os valores são imediatamente lançados nas contas-poupanças do grupo, via depósitos e transferências, muitas vezes na boca do caixa.
Em seguida, ocorrem retiradas diárias de valores das contas-poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya, para repasse às contas das empresas, tudo a fim de evitar bloqueios judiciais. Algumas delas chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão, segundo a PCDF.
Foragido
Ronaldo de Oliveira chegou a ficar três anos foragido da Justiça do Distrito Federal e com mandado de prisão preventiva a ser cumprido, entre 2018 e 2021. Ele foi detido em 12 de abril de 2021 por policiais do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), na cidade de Niquelândia (GO).
Os policiais receberam informações de que o empresário circulava pelo povoado de Buriti Alto, próximo ao município de Mimoso (GO), onde Ronaldo de Oliveira teria um posto de gasolina. O local, segundo os militares, era estratégico, pois facilitava uma possível fuga para diferentes unidades da Federação, como Bahia, Tocantins ou mesmo o Distrito Federal.
Após uma série de buscas, os policiais localizaram uma caminhonete Hilux vermelha usada pelo empresário para circular pela região. Em seguida, ele foi abordado por uma equipes do GPT, que confirmou a existência do mandado de prisão em aberto por corrupção contra a administração pública e por associação criminosa.
Pagamento de propina
Em abril de 2018, a polícia pediu a prisão de Ronaldo e da companheira dele, Soraya. A Justiça atendeu à solicitação após os investigadores terem confirmado que o casal pagava propina para o então responsável pela unidade de controle de bilhetagem automática do DFTrans, Harumy Tomonori. O gestor foi detido em 23 de março de 2018, em mais um desdobramento da Operação Trickster.
Em depoimento, Harumy confessou que, mensalmente, recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, a fim de agilizar processos, pagamentos e fazer vista grossa diante de irregularidades e fraudes cometidas pelas empresas de Ronaldo e Soraya.
Entre as falcatruas, estava o fato de as empresas descarregarem cartões estudantis de alunos do Entorno como se fossem da rede pública de ensino do DF. Imagens flagraram Harumy deixando uma das empresas do casal com dinheiro pago como propina. À época, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram um envelope semelhante na casa de Harumy, com cerca de R$ 12 mil.
Com informações do Metrópoles - Carlos Carone, Mirelle Pinheiro
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