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A preocupação da Rússia com suposto espião preso em Brasília

A pedido de comissária dos direitos humanos da Rússia, procuradoria vinculada ao MPF visitou Serguei Cherkasov em presídio federal



Preso e condenado no Brasil por uso de documento falso e investigado pela Polícia Federal por espionagem, lavagem de dinheiro e corrupção, o suposto espião russo tem preocupado o governo de Vladimir Putin.

O Alto Comissariado dos Direitos Humanos da Rússia pediu à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão vinculado ao Ministério Público Federal, que fizesse uma visita a Cherkasov na Penitenciária Federal de Brasília, supostamente para avaliar como ele tem sido tratado na cadeia. A solicitação foi feita pela comissária russa dos direitos humanos, Tatiana Moskalkova, diante de alegadas preocupações de familiares e amigos de Cherkasov por não terem contato com ele.

O pedido foi atendido pela PFDC em 29/2, quando o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, foi ao presídio para conversar com o russo. Na ocasião, em quase três horas de visita, Cherkasov fez diversas reclamações sobre a cadeia na capital, para onde foi transferido em novembro de 2022. Segundo o relatório de Vilhena, o suposto espião “mostrou-se mais confortável e seguro para conversar” depois que leu a mensagem em russo enviada pela comissária dos direitos humanos do Kremlin à PFDC.

A prisão do russo no Brasil, em abril de 2022, deu-se depois que autoridades holandesas desarticularam um plano para infiltrá-lo, usando uma identidade brasileira, na Corte Penal de Haia, na Holanda, onde correm processos contra Putin. Como publicou a coluna Na Mira, o serviço secreto holandês apontou que ele passou 12 anos construindo a identidade falsa — de Viktor Muller Ferreira, 33, nascido em Niterói, no Rio de Janeiro.

As reclamações do russo


Cherkasov afirmou a Vilhena, chefe da PFDC, que, a pedido do próprio russo, está isolado em uma área da penitenciária. Ele relatou ter feito a solicitação depois que um preso “amigo” sofreu ferimentos em um tumulto na cadeia.

Durante a visita da PFDC, o suposto espião declarou sofrer “tratamento diferenciado” pelos agentes penais, que, de acordo com Cherkasov, normalmente tomam-lhe revistas, palavras cruzadas em russo e correspondências. Os papeis em branco usados pelos presos para fazer solicitações à administração da cadeia, disse, só foram devolvidos a ele após uma greve de fome.

Cherkasov declarou receber visitas somente de representantes do Consultado da Rússia. No período na Penitenciária de Brasília, relatou ter tido apenas duas reuniões virtuais com advogados e que nunca teve contato com sua mãe, que vive na Rússia.

Ele também reclamou da alimentação, classificada como “extremamente ruim”. Segundo o russo, ele já recebeu comida estragada, podre e crua. A partir de fevereiro, disse Cherkasov, houve melhora neste ponto. O russo ainda disse receber um kit de higiene com um sabão “bem ruim” e sem fio dental.

Quanto à sua saúde, o suposto espião disse que lhe foi negado um medicamento para solucionar problemas de obstrução nasal e contou sentir “muita dor” num dente. Cherkasov criticou o atendimento médico em duas ocasiões: quando, segundo sua descrição, lesionou o punho da mão direita em uma queda; e quando teve um problema na panturrilha, com “muito inchaço e dores intensas”.

Ainda conforme o relatório do procurador dos Direitos do Cidadão, Serguei Cherkasov criticou a luminosidade na cela para leituras. O russo disse que, após a fuga de dois presos da penitenciária federal de Mossoró, em fevereiro, por um vão cavado junto à luminária da cela, foram instaladas barras de metal no local, o que reduziu a entrada de luz.

Depois da conversa, o chefe da PFDC visitou a cela de Cherkasov e o setor de saúde da Penitenciária Federal de Brasília, onde pediu a um dentista “brevidade” no tratamento dental ao russo.

Carlos Vilhena solicitou à diretora da penitenciária, Amanda Jaqueline Teixeira, que fossem esclarecidos a Cherkasov seus direitos na prisão. Ela classificou o russo como “preso tímido e introspectivo, que tem dificuldade em externar suas próprias demandas e necessidades”.

O governo de Vladimir Putin pediu ao Brasil a extradição de Cherkasov sob a alegação de que ele é um criminoso comum já condenado no país, por delitos de pertencimento a organização criminosa e tráfico de drogas. A estratégia, como tem noticiado o colunista Rodrigo Rangel, é usada pela Rússia para levar de volta espiões descobertos em ações no exterior.

Os Estados Unidos também pediram a extradição dele, mas, conforme publicou Rodrigo Rangel, o governo Lula negou preliminarmente a solicitação.

A extradição de Serguei Cherkasov pedida pela Rússia é analisada no STF pelo ministro Edson Fachin, que no último dia 20/3 recebeu uma cópia do relatório da visita da PFDC ao russo na penitenciária. O documento também foi enviado à direção do presídio, ao Ministério da Justiça, à Defensoria Pública e ao Alto Comissariado dos Direitos Humanos da Rússia.

No fim de fevereiro, Fachin rejeitou pedidos da Defensoria Pública para que Cherkasov fosse colocado em liberdade, com medidas cautelares, e entregue voluntariamente à Rússia.

Com informações do Metrópoles - João Pedroso de Campos

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