Felipe, o piloto que fez delação premiada contra o PCC e foi morto por coronel de Goiás, era sócio de PM e aliado de subtenente traficante
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O piloto Felipe Ramos Morais foi peça fundamental para a polícia em pelo menos quatro grandes investigações contra a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Isso porque Felipe pilotou para lideranças da organização criminosa em diferentes momentos e conhecia bastante os segredos do tráfico internacional de drogas.
Por ter entregado os comparsas para a polícia, Felipe era considerado um alvo em potencial do PCC. Em fevereiro do ano passado, o piloto foi morto durante uma ação policial em Goiás, onde ele tinha uma fazenda de soja.
Apesar do envolvimento com integrantes da maior facção do país, Felipe tinha proximidade com policiais militares. Ele foi sócio em uma empresa de aeronaves do ex-comandante do Grupamento Patrulha Aérea da PM de São Paulo, tenente-coronel Edson Luiz Gaspar, de quem era amigo pessoal, segundo a PF. O piloto sonhava em ser um oficial da PM quando era jovem, segundo matéria da revista Piauí de 2020.
Relação com PM traficante
Felipe também trabalhou, entre 2014 e 2015, como piloto de helicóptero para a família Molina, que comandava o tráfico de cocaína e maconha na região de Novo Mundo, em Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai, segundo investigação da PF.
O chefe do clã Molina era o subtenente da PM Silvio Molina. Em um depoimento para a PF, uma testemunha se refere à esposa do policial como Tia da Maconha. “Fica tranquilo que a cidade é nossa”, teria falado a senhora Molina durante uma negociação de transporte de drogas.
O piloto Felipe tinha uma relação de proximidade especialmente com o filho de Silvio Molina, o jovem Jefferson Molina. Jeffinho, como era conhecido, gostava de ostentar dirigindo carros de luxo, fazendo viagens para o exterior e promovendo festas de arromba, de acordo com investigação da PF.
A Polícia Federal ainda investigava o clã Molina quando Jefferson foi executado a tiros por duas pessoas em uma motocicleta, em junho de 2017. O pai, subtenente, aproveitou a função de policial para torturar suspeitos na busca dos culpados pela morte do filho, segundo o Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul.
Em delação premiada para a PF, o piloto Felipe contou várias informações sobre os esquemas da família Molina e de outros traficantes que tinham relação com o clã. Entre os traficantes citados na delação, estão nomes de importantes lideranças do crime no Nordeste, como Bebê e Vavá.
Durante uma viagem para Natal (RN) com Jeffinho, o piloto participou de uma festa com vários traficantes armados, garotas de programa e drogas, segundo a delação. Na época, a polícia estimava que o patrimônio de Felipe era de quase R$ 20 milhões.
Prejuízo de milhões e voo da morte
Felipe chegou a ser detido enquanto transportava drogas numa aeronave em 2012, mas ele só decidiu contar o que sabia sobre o PCC depois de ser preso na investigação sobre as mortes das lideranças da facção, Gegê do Mangue e Paca, em 2012. O piloto conduziu o helicóptero usado para matar a dupla, mas alegava que só ficou sabendo do plano de homicídio na hora e que ficou com as mãos na cabeça enquanto as mortes aconteciam.
Esse episódio das mortes dessas duas lideranças, por causa de uma briga interna no PCC, ficou conhecido como o voo da morte. A dupla foi assassinada em Aquiraz (CE). Segundo o Ministério Público do Ceará, Felipe forneceu preciosos detalhes sobre o que aconteceu com das vítimas, além de informações a respeito de aspectos da estrutura da organização criminosa, hierarquia e divisão de tarefas.
O piloto Felipe ainda ajudou a PF de São Paulo em duas grandes operações contra o PCC voltadas especificamente para a lavagem de dinheiro. Na Operação Rei do Crime, em 2020, a polícia derrubou um esquema envolvendo postos de combustível.
Já na Operação Tempestade, no ano seguinte, a PF conseguiu um sequestro de bens no total de R$ 30 milhões e o bloqueio de R$ 255 milhões em contas. De acordo com matéria do R7 na época, o esquema delatado pelo piloto envolvia o uso de doleiro que enviava dinheiro para a China e empresas na região da 25 de Março, em São Paulo.
Morto por policial famoso
O policial responsável pela morte de Felipe é o tenente-coronel Edson Raiado, que se projetou nacionalmente após matar o bandido Lázaro Barbosa, em 2021. Ele chegou a se candidatar a deputado federal pelo Avante, mas perdeu. Sua aparição mais recente foi como segurança particular do pré-candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB).
Segundo a versão dos PMs de Goiás, no dia 17 de fevereiro de 2023, o tenente-coronel Edson Raiado e o major Renyson Castanheira invadiram uma fazenda pelos fundos, em uma área entre Abadia de Goiás e Goiânia, depois de receberem uma denúncia de que no local era usado para o transporte de drogas.
Edson Raiado afirma que, quando chegaram ao local, havia três homens armados que reagiram à abordagem policial. Morreram o piloto Felipe, o gerente da empresa dele, Nathan Moreira, de 21 anos, e o mecânico de aeronaves Paulo Ricardo, de 37. O mecânico e o gerente não tinham histórico de envolvimento com o crime. As famílias dos mortos questionam a versão policial.
Dos 15 tiros que mataram os três homens, 12 foram disparados por Edson Raiado. O Ministério Público de Goiás sugeriu o arquivamento do caso – o que foi feito em agosto do ano passado – mas indicou ressalvas, pois o local do suposto confronto sofreu alterações. “Não houve robusta produção de provas aptas a sufragar a tese de legítima defesa”, escreveu o promotor Spiridon Anyfantis.
Os PMs apreenderam três helicópteros que estavam na fazenda. Também apresentaram três armas e cerca de 5 kg de cocaína como sendo do trio morto. No entanto, neste mês, a investigação sobre tráfico de drogas relacionada ao caso foi arquivada. Os investigadores de Goiás não encontraram indícios de ligação entre os três mortos e traficantes de drogas, mesmo após quebra de sigilo dos dados dos celulares deles.
Com infrmações do Metrópoles - Thalys Alcântara
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